Apresentação narrada por Carolina Nóbrega
VESTIRme
Estou aqui não como autor. Estou aqui como porta-voz, voz de fundo, voz em off. Os autores são as roupas.
Pirucas, sapatos de salto alto, lápis de olho, batons, chapéus, óculos escuros, bolsas, botas, sombras de olho, grampos de cabelo, camisas, vestidos, saias, blushes, cintos, meias-calça, alfinetes-de-segurança, luvas, casacos, faixas de cabelo, bases compactas, blusas, espartilhos, enchimentos, polainas, jalecos, óculos de grau, óculos escuros, esmaltes, pulseiras, colares, brincos, cintas-ligas, calças de moletom, talleurs, soutiens, tops, chapeis cônicos de aniversário infantil, boinas, tênis, collants...
Eu sou apenas um provedor de roupas; uma máquina de dispositivos; um olho que acompanha a distancia; um organizador de arquivos; um fotografo amador; um inventor de passeios públicos; um propositor de ações aleatórias.
As roupas não foram escolha minha. Responderam a um chamado. Chegaram até aqui porque a Mariana Sucupira anunciou ser necessária sua própria evasão, sua própria falência, urgindo então novas parodias de si para erguer o cotidiano.
Candy says I’ve come to hate my body
And all that ir requires in this world
Paródia, o eu como parodia, repetição parodística de si mesmo.
Paródia, dança como parodia, repetição parodística dela mesma.
Paródia, parodia?
Como criar para si um CsO (Corpo sem Órgãos)?
Não.
Como criar para si um PsO (Pseudônimo)!
Paródia
Paródia
PsO
PsO
Pão Pão
Queijo Queijo
As roupas geram Pseudônimos (PsOs). Os PsOs são os intérpretes. A multiplicação de autores equivale à multiplicação das roupas e consequentemente à multiplicação dos PsOs.
Trata-se de um trabalho impossível, de um delírio coletivo. De uma polifonia.
É um trabalho de muitas pessoas, os PsOs e suas progressivas autonomias. O fundamental é saber quando um PsO é dominante em relação aos outros. É preciso entender um jogo de entradas e saídas.
Por que uma vez que se começa não se pode parar. Por que os PsOs impõem a si mesmos, procriam e exigem seu (re)aparecimento. É impossível não entrar na dança.
Essa dança, pois, é uma mentira. Uma série de mentiras. Uma mentira que se repete ao ponto de verdade. Uma verdade que se repete ao ponto de uma mentira. Um jogo. Uma paródia. Um disfarce. Um deslocamento. Uma subversão. Uma repetição. Uma série de gestos. Um inventário de EUs. Uma dança sem frescura. Uma dança que se desloca para o movimento cotidiano banal. Um movimento banal que é uma dança. Uma dança que se quer de qualquer um para qualquer um. Dance dance dance e remexendo assim não pare pare pare.
Apresento.
O inventário de EUS.
Aqui, hoje, alguns PsOs catalogados Irão aparecer para vocês. Talvez não todos. Mas não se preocupem. Eles estão vindo, continuarão a todo o momento. Vocês não vêem que eles estão chegando?
O Inventário de EUs é uma pasta. Uma pasta que contém fichas. As fichas correspondem à EUs.
Todos os EUs carregam essa pasta, catalogam e analisam uns aos outros. Todos os EUs controlam a pasta. Ela é de posse da multiplicidade de PsOs disparados pelos atos de vestir/agir repetidamente OUTROS. Ela é de posse comum da comunidade de PsOs em constante (re)produção.
Catalogar os PsOs/EUs por ordem de aparecimento. Responder Questionário. Inventário verbal e fotográfico. Sendo o eu inicial, o eu#0, Mariana Sucupira.
Conforme o surgimento de um Eu, catalogá-lo. Conforme o desenvolvimento dos EUs, separá-los por ordem de interesse: Nenhum, Intermediário ou Total.
Fichas .....
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