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Sample como "EXTRAÇÃO POR SOLVENTES"- por Fabiane Carneiro


“Corpo intermitente que não para de mexer para todas as direções, indiretamente, fracassado, sem remédio. Que de tanto persistir nessa vibração gera potências, explosões, tentativas de salvamento. Que acabam mais por ferir esse corpo já débil. Braços e costas são as tentativas de saída das superfícies-imãs. Às vezes nessas explosões-debatimentos-rebatimentos o corpo cessa, numa exaustão momentânea, uma aparência enganosa de trégua. Mas o corpo é novamente impelido a se aproximar de outra superfície-imã e a vibração volta ao corpo, ganha novo fôlego, novo ciclo de insistência sem sentido, sem razão etudo começa novamente.  Qual a potência dessa vibração e dessas explosões se o material não for tão sólido quanto uma parede? Se for um papel? O sample teria alguma potência de destruição se colidisse com um material frágil? A fragilidade poderia transmutar de corpo? A violência incutida naquele corpo poderia se revelar em sons etransformação de matéria? Talvez um corpo recoberto por uma superfície frágil, envelopado, pudesse gerar barulho e se esfacelar em sua trajetória. Talvez materializando sua condição de esfarrapamento contínuo”._________ Quanto aos processos de separação de misturas (eu_ser_corpo) para chegar no sample, penso que o processo pelo qual passei parece mais com uma “EXTRAÇÃO POR SOLVENTES” - Usa-se algum líquido (substância química) para extrair um ou mais componentes da mistura.  Diversos foram os solventes: provocações da Estela, falas e trocas em grupo, experimentações ao meu redor, sons, ruídos, barulho, umidade, temperatura, textura, materialidades. Cada um a sua maneira ou em conjunto extraíram da mistura (eu_ser_corpo) uma pequena parte (sample) destinada a mostrar como é o todo, ou como está o todo. O tempo de exposição ao solvente também se mostrou importante, revelando por vezes mais e outras menos essa tão procurada essência.  Logo no primeiro encontro, eu comentei sobre os meus interesses de pesquisa: as interferências capazes de provocar fissuras, ruídos ou curtos-circuitos na realidade; a compreensão dos embates do corpo urbano, corpo físico e corpo cidadão; e as invisibilidades e potências poéticas na cidade contemporânea, além da atração à proposta do grupo de estudos de “não ajuste pleno à ideia de projeto”. É quase mágico como o corpo revela tudo isso que está nos interessando, afligindo, inquietando. Como ele transparece tudo isso, sem projeto.


Como esse meu corpo-cidadão está afetando o meu corpo físico no atual contexto local, nacional, global?

Que invisibilidades são essas, ao mesmo tempo tão presentes, mas tão encobertas e sufocadas?  

O corpo débil que apareceu não é à toa. O debater-se fracassadamente sem possibilidade de agir diretamente ou concretamente também não. As explosões, tentativas de salvamento ainda estão presentes assim como a exaustão momentânea. O buscar novos lugares no espaço e o chegar até eles se rastejando, se ocultando não veio do nada. Os ciclos de insistência sem sentido continuarão. 


Será que a materialização da condição de esfarrapamento contínuo ficará visível em algum momento para todos?


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