São Paulo, segunda-feira, 12 de Março de 2018.
A querida Mônica Galvão compartilhou comigo esse texto do artista plástico\visual Fábio Tremonte e eu fiquei com vontade de compartilhar aqui:
""Recomeçar nunca é recomeçar alguma coisa. Nem retomar um assunto ali onde a gente o tinha deixado. O que a gente recomeça é sempre outra coisa. É sempre inaudito. Porque não é o passado que nos impele a isso, mas precisamente o que nele não adveio. E porque somos também nós mesmos, então, que recomeçamos. Recomeçar quer dizer: sair da suspensão. Restabelecer o contato entre nossos devires.
Partir, de novo, dali onde estamos, agora. "
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Ao final do encontro passado, a caminho de casa, no buzão, eu e Olívia tivemos uma boa conversa sobre algumas impressões dela e minhas sobre esse nosso processo.
Olívia me disse mais ou menos isso...que no encontro passado, por conta do experimento sensível com a coluna, que ela não conseguiu recuperar partes\fragmentos do sample dela, que continham essências as quais ela se sentiu “apegada…. apegada foi a palavra que ela trouxe.
Eu então me lembrei imediatamente que a Fabi, ao final do encontro passado me deu um feedback que tbm se aproximava da impressão\depoimento da Olívia. A Fabi me disse que com o trabalho da coluna eu havia “puxado o tapete dela”, porque a coluna é muito flexível\mole e que as qualidades que a estavam interessando em seu sample, digo, anteriormente ao trabalho sensível da coluna, não cabiam exatamente nesse corpo articulável\mole, qualidades que a coluna possui.
Olívia e eu continuamos a conversar, Olívia então me disse que, de certa forma, a descontinuidade de assuntos que eu vinha propondo durante a nossa “preparação corporal”, momento anterior à investigação dos samples individuais, provocava algumas vezes, um estranhamento, e de certo modo ela pôde identificar, um desejo por uma experiência na continuidade. Seria isso ? Bem…ao menos foi essa minha interpretação. Ao final da nossa conversa eu pedi para Olívia, que, se possível, ela tentasse escrever, colocando as impressões dela para todos do grupo, acerca dessa nossa conversa.
Eu então acrescentei à nossa conversa dizendo que ao preparar o encontro passado, eu senti que precisava trazer para a preparação corporal o material da coluna, via trabalho mais sensível, com toque 2 a 2. Reavaliando o caminho da preparação que fiz para aquele encontro eu pensei que o material da coluna seria necessário:
a.Pois todo o trabalho que venho compartilhando, refere-se tbm aos meus próprios samples, os quais reconheço ainda me provocam como artista-orientadora nesse processo.
b. Havia já nesse meu “sample da coluna” uma certa imbricação entre diferentes linguagens da dança, visto que trabalhei por meio da coluna em diferentes Cias., e sobre diferentes pontos de vista. Durante essa preciosa conversa com Olívia, pude reconhecer que esse meu retorno ao material da coluna, nesse momento do nosso processo, tinha um propósito, justo porque escolhi organizar o material com referência em experiências onde pude experienciar o mover visto pela perspectiva da minha criança, ou seja, dando vazão e relevância para a escuta da natureza, do imaginário e do brincar.
c. Ainda porque uma dentre outras referências-experiências que escolhi para o encontro com a coluna, foi a do apoiar\se aninhar\aproximar e distanciar em relação ao colo\presença do corpo do outro. A intenção foi provocar um vai e vem do caracol-criança-adulto….em principio, uma intuição que acredito nos pode continuar ajudando nesse nosso processo. Na relação entre : saber e não saber, possibilidades e escolha, ir e voltar, acolher-se e distanciar-se de si\ do outro, no trânsito entre, apoios e segurança e vôos para fora de si\do outro\ desconhecido, entre você e mundo. Enraizar e desenraizar. Criar território e desterritorializar-se.
As concretudes da matéria corpo e as possíveis operações da nossa imaginação ao forjar uma criação.
Coluna como desejo, para propor um embate físico com o sensível, com as profundidades, as camadas, a imaginação, a ancestralidade da infância e o brincar no corpo adulto.
d. Como artista-orientadora acredito em propor descontinuidades por meio de desvios. Em estabelecer distâncias onde se possa facilitar o reconhecimento a cada um de suas próprias escolhas, sobre aquilo que cabe ou não, sobre o que persiste apesar dos desvios, e sobretudo sobre onde se deseja continuar, quebrar, romper.
Enfim ….estou aqui nesse papel de orientadora, mas do meu ponto de vista, estar nessa função não me impossibilita arriscar, investigar, experimentar, descobrir, falhar, aprofundar, criar.
Assim como vcs, escolhi me deixar guiar\atravessar por alguns “samples” e continuar…. abrindo, desdobrando, perfurando, atravessando, transformando caminhos.
Agradeço a cada um pela confiança no risco, pela possibilidade de estar juntx e criar potência.
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