top of page

Repetir o gesto é ser o outro em mim mesmo.

22/04

Buraco ressonante da íntima miséria.

Eu aborto Tu abortas Ele aborta Nós abortamos Vós abortais Eles abortam.

Verbo de ação para lembrar que o analgésico fora a lembrança da infância: Fúria parindo o pequeno potro. A dor serviu pra lembrar que sou um mamífero de médio porte e de que é não dá pra ser feliz em São Paulo, me desculpem. Cidade fedorenta e ilusória se eu acreditasse em céu teria certeza de que aqui é purgatório. Cidade que crava na mente a ilusão de que gente não é bicho. Ah vá!

A movimentação foi lenta, de quadris abertos, de continuidade e não-impulsos, resistência. A memória foi de fato o tema desta dança. Improvisação não influenciada pelos outros, apenas afetada na imagem. No olhar, no quadro geral.

Daqui fui pra balada nas profundezas de uma caverna, onde os demônios são macios e cheirosos, deslizam e vibram de maneira delicada e atenciosa. Repetir o gesto é ser o outro em mim mesmo. É fazer o outro caber em mim, caber no meu tamanho, meu corpo foi um molde escultural onde foi preciso tirar arestas de mim pra que o outro de fato penetrasse e fosse um pouco eu e outro e outro e eu. Engolir a sua alma que não existe, sobrar o vazio do entre as partículas que formam você. Um caso de amor enxergar o espaço, ver o brilho do espaço, enxergar o que não se vê.


4 visualizações0 comentário
bottom of page