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o que importa é que continuamos cada vez mais vivos

16 mulheres e 1⁄2 20.05.19

Registro au.to.clis.mo

Tentativa de retomar a conversa daquele dia. A proposta de aprofundar as pesquisas e transes na rua - no espaço urbano - era de revisitar as que ficaram fortes e significaram muito para mim. Isso em um lugar repleto de contexto que, com certeza, as modificariam. Não tinha ideia do que aconteceria, mas o roteiro que Drica, Mari e eu elaboramos parecia fazer sentido. Era uma intuição. Seria um caminho no escuro em meio a corpos conhecidos e desconhecidos. Em meio a tudo isso, inúmeras propostas, lembranças, desejos, Mari lança a palavra “estética”. Ela foi definitiva, a meu ver, para a escolha das paisagens, dos locais. Essa palavra sempre me quebra as pernas. Acho que tenho um preconceito gratuito com relação a ela, uma visão unilateral e contaminada de seus significados.

Caminhar solitário pela rua. Escolhi o segundo ou terceiro lance da escada. Adentrei a cena. Sim, a cena, porque a dita palavra “estética” me fazia transitar entre a visão interna e a externa, num vai- vem incessante. Protagonista e público num mesmo corpo. Ou protagonistacorpo e públicocabeça... sei lá... As palavras na escada por meio do auto-deboche me pareceram um tanto egóico... me peguei mais interessada em me perder com elas na paisagem, cheia de diagonais de concreto com um holofote aceso no céu limpo. Sentar ao lado da Rebecca foi divertido. Um jogo de falas ensimesmadas que se contaminavam por direções/palavras dadas pelo outro... mais forte que isso era a senhora da limpeza que adentrou a cena com seu celular, sentou nos primeiros degraus e iniciou uma fala em alto e bom tom... só não compreendi exatamente se falava sobre ela, já que muitas vozes se entrecruzavam. Potências do cotidiano, que permitem a dubiedade das propostas artísticas.

Pedro chegou. Respiração tripla, que se tornou única. Levantar e flutuar pelos degraus numa descendente a caminho do imenso corredor. Lá corpos pontuando, muito próximos ao paredão. Giros sobre o eixo do próprio corpo. Giros de corpos ao redor de um eixo imaginário. Tudo foi ficando escuro e turvo. O que me trazia a materialidade do instante eram as colisões do meu corpo e braços com o corrimão/ parede. Eles me informavam, diziam que eu ainda estava ali. Em meio ao redemoinho, momento mágico de troca do cachecol do pescoço do Pedro para o meu pescoço. O que parecia mágica foi um simples engate divertido de engrenagens. Via corpos conhecidos sentados no chão e corpos desconhecidos que passavam e tentavam se comunicar. A permanência no pátio do pipoqueiro fez com que aterrasse, não tinha mais referências materiais. Se me perdesse seria uma vez. A turbidez foi amenizada.

Garrafa d’água. Deslocamento pelo escuro. Estava com sede. Mas aquele líquido como meio de campo entre a garganta e o som que alcançava a noite era o que importava. Foi aí que comecei a ficar enjoada. Parece que o giro se misturou ao afogamento das palavras. Cada garrafa que eu secava era seguida de uma extensão de mão com outra possibilidade de afogamento. Caminhar mareado até o paredão. A descarga corporal se deu no modo “cansado”. O trânsito entre as pessoas era proposital. Precisava circular para buscar energia dos outros corpos. Buracos na parede me pareceram a solução de apoio para o corpo que descarregava as últimas energias.

Depois que tudo acabou pensei que a proposta foi interessante e descabida ao mesmo tempo... Já havíamos comentado no dia da proposta do núcleo + ladainhafabi + girodrica, que três propostas eram uma dose forte. Bom, depois disso uma noite com cinco propostas...

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