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Para Juliana Gennari


Querida Ju,

Te convido a ser minha intérprete e co-criadora neste projeto. Fiquei muito entusiasmada quando te tirei no amigo secreto, pois antes deste grande evento, você já era uma das pessoas que eu havia pensado em chamar. Fiquei ainda mais entusiasmada, pois admiro a sua dança, a sua expressão corporal, as imagens que constrói e me aguça querer “ver” mais de perto..... No âmbito pessoal (se é que se pode separar arte/vida), revelou-se grande interesse em me aproximar ainda mais de ti, depois de certa intimidade prazerosa compartilhada no Clown Clandestino (eu como sendo a sua querida prima Beti...rs...).Então, vamos ao que interessa: segue uma primeira proposta, esteja à vontade para perguntar, comentar, sugerir.....Eu busquei relacionar assuntos pessoais que me interessam às questões que surgiram nas Janelas Poéticas que me afetaram......

“Cada indivíduo poderia ser definido por um grau de potência singular e, por conseguinte, por um certo poder de afetar e de ser afetado.”

“Como indivíduos se compõem para formar um indivíduo superior, ao infinito? Como um ser pode tomar um outro no seu mundo, mas conservando ou respeitando as relações e o mundo próprios?” A partir daí, pode-se pensar a constituição de um “corpo” múltiplo com suas relações específicas de velocidade e de lentidão. Pensar um corpo grupal como essa variação contínua entre seus elementos heterogêneos, como afetação recíproca entre potências singulares, numa certa composição de velocidade e lentidão.”

“O comum como um reservatório compartilhado, feito de multiplicidade e singularidade.”

Peter Pelbart

“ O espaço convida à ação e antes da ação a imaginação (imagem-ação) trabalha”.

“ Que lindo objeto dinâmico é um caminho! Como permanecem precisas na consciência muscular as veredas familiares da colina”.

Gaston Bachelard

Proposta primeira em linhas gerais a ser construída junto com você:

Partindo das perguntas que surgiram no processo da Janela Poética da Ilana em relação à dança: o que é meu? O que é do outro? Existe autenticidade? (questões relativas a identidade), buscar construir um “ (co)autorretrato móvel” da nossa dança: Como se constrói o meu gesto cotidiano? O que é meu? O que é do meu pai? O que é da minha mãe? O que é uma mimética do convívio , seja ele íntimo ( namorados, amigos) e/ou miméticas de padrões sócio-económicos? E como a minha gestualidade cotidiana compõe (precede) a minha dança? Me interesso pela fronteira que borra o gesto cotidiano do extra cotidiano. Como essa “dança” coletiva diária de todos nós, compõe a minha dança? Como transbordar o gesto cotidiano (funcionais e de expressividade cultural), e que também são meus, retratos de mim (ancestralidade e mimética) e desdobrá-los, derivá-los nas suas múltiplas “errâncias”, lapsos, expressividades íntimas/subjetivas, brechas/ respiros gestuais desautomatizados dos condicionamentos sociais, subtextos? Sendo essa expressividade um reinventar (se), recriar (se) com pitadas de poesia. Neste trânsito irá se compor uma coreografia (explico mais abaixo os primeiros procedimentos). A proposta é que construamos um “(co) autorretrato” gestual juntas!

E a partir da questão levantada na Janela Poética da Carol “o corpo em co-autoria com o espaço”:

Me interesso ainda pela relação destes gestos (cotidianos ou extras) com o espaço onde acontecem. A partitura coreográfica deverá ter sempre uma brecha para o improviso, poder ser contaminada, borrada com as especificidades do lugar onde acontece (arquitetura, gestos de outros, sons, fluxos, etc..). Podemos talvez falar em uma composição working progress, onde o meu “auto-retrato” pode ser sempre borrado/recomposto e reinventado a partir dos retratos dos outros.....Mas algo permanece? Como permanece? Por que permanece? Qual é o rastro da minha presença? Da presença do outro? O cotidiano em seu contexto “natural” tem um significado, quando é deslocado para outro contexto, o que acontece? O extra cotidiano quando inserido em espaços que não lhe são convencionais, o que acontece? E assim essa co-autoria também com o ambiente, transforma o espaço, o seu uso e recria a relação do corpo que dança no espaço em que dança.

Inspirada pela minha pesquisa pessoal (o interesse pelo rastro que fica) e pelas imagens compartilhadas pela Mônica e Ilana, surgiu esse complemento à proposta da composição coreográfica, veja o que acha:

Um diário do processo, como um outro “(co) autorretrato” construído através de foto-colagem/ foto–montagem: eu iria fotografar momentos do processo (seu conhecimento será muito útil, podemos elaborar juntas) . Cada uma de nós individualmente escolhe as fotos dentre as tantas e faz com elas o que quiser: tratar, colar, recorta, sobrepor, pintar...ect.... (talvez cheguemos em uma estética comum?!). Esse material vira um diário do processo e também um elemento artístico a ser compartilhado virtualmente com o 16. Podemos pensar ao longo se ele integrará a performance. Ele dialoga conceitualmente com a proposta de composição coreográfica, na medida em que, assim como o gesto/movimento cotidiano e extra cotidiano são deslocados de seus contextos habituais, a imagem original também é deslocada e experimentada de outras formas / espaços / enquadramentos / texturas / proporções, etc... Mando algumas imagens como possíveis exemplos de técnicas variadas (o autor está no verso) e uma primeira ação, começando já a brincar...rs..... Se tiver referências manda para mim.

Estudos práticos/Procedimentos:

-Escolha de lugares/situações para pesquisa/experimentação in loco dos gestos e movimentos “cotidianos” (a dança de todos). Penso em uma saída por mês (duas horas), veremos em nossas agendas. - Observar no dia a dia os seus gestos/movimentos....os que insistem e observar os dos outros. Escolher os que chamam a atenção ou apontam para possíveis desdobramentos interessantes( veremos isso melhor nos nossos encontros) . Para o dia 27/03 você já pode escolher dois seus e dois de outros (observando na rua, de um colega, da mãe, do namorado, etc..). Eu farei o mesmo e no encontro do 16 farei algumas propostas para experimentação destes movimentos. -A partir de imagens, estudo motor do corpo, diferentes dinâmicas e procedimentos criativos de composição (a serem elaborados durante o processo), desdobrar ao máximo estes gestos buscando o singular e podendo sempre retornar a eles (construir no trânsito, entre..). Faremos isso tanto no espaço externo (pesquisa), quanto na Sala nos encontros do 16. - Do material que for surgindo, fazer uma seleção. Sempre revisitá-la, propor novos desafios, novas situações, podendo escolher células anteriores. - Da seleção, compor a partitura coreográfica ( experimentando sempre a sua brecha em ser contaminada).

Referências teóricas:

Peter Pelbart- Elementos para uma cartografia grupal Amálio Pinheiro- Mestiçagem Gaston Bachelard- A poética do espaço

Verbo de Ação:

Inscrever........................................................

Te deixo esta definição do dicionário

Inscrever: 1.insculpindo, entalhando ou gravando. 2. Traçar, desenhar. 7. Efetuar a inscrição de si mesmo; escrever-se.



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