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estar onça, ser alcateia

16 mulheres e 1⁄2 Transe em trópico

02.09.19

Virar onça

Virar onça no susto. Permitir o aflorar de toda a essência animal, tropical, selvagem. Em todas as suas nuances: estar onça (um corpo que se apóia, cheira, morde, lambe, olha, se move diferentemente do estar humano); ser alcateia (nesse coletivo de feras) e ao mesmo tempo mapear e defender seu território.


Primeira aproximação. Corredor de acesso ao ancestral.

Dois lados. Um túnel. À medida em que se passa de um lado ao outro o corpo afunda, fica mais forte, acessa subsolos geológicos e ancestrais, remove a terra, faz brotar o instinto que a civilização insiste em conter.


Segunda aproximação. Duas feras.

Paulo e eu. Dois seres mandíbula, boca, língua, saliva, cheiro de suor e depois de azedume. Carnívoros, sexuais, afetuosos, brincalhões, violentos, selvagens.


Terceira aproximação. A floresta artificial.

Sem me lembrar da cor do celofane que me foi dado - talvez fosse verde - ou talvez a indução de pensar que tenha sido essa cor já é o imaginário da fera na selva, que continua com a boca extremamente ativa e se esconde por trás das folhas - agora contemporâneas - de um polímero derivado da celulose, que deve ser tóxico, mas que contextualiza a onça contemporânea urbana tropical.


Cair de quatro na fera.

Transitar entre o corpo humano e o corpo onça. Deslocamentos em quatro apoios, malemolentes, sensuais, onde a cabeça - coluna - quadril - membros conversam com o espaço em uma organização contra-lateral. Um deslocamento lento, mas selvagem, que a qualquer momento pode ser violento em um abrir a boca e esturrar, miar, rugir, urrar, gemer, urrar. Nesse primeiro dia a pata ainda era de apoio e não de ataque. O trânsito dava conta de quanto humano e animal estão juntos e dialogam num conter/ expor um estado ou outro.

Fabiane Carneiro



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