- improvisação/registro em vídeo e fotos;
- repetição de um percurso/espaço escolhido, segundo uma qualidade/movimentação encontrada;
- eleição de elementos da construção ruída para o descamar (parede/esquadria), escavar (canto do ambiente (parede/parede/esquadria);
- perceber o que resta (repetição e insistência ou pausa).
Eu escolhi este espaço, localidade da casa, porque existia ali uma construção, paredes, muitas janelas, mas não havia teto. Neste lugar existiam árvores gigantes e de lá eu podia ver o céu e o topo das árvores, folhas voando e se movendo com o vento. Havia a construção, o sólido, o antes, o algo antes que já não era mais o mesmo. Havia transformação, camadas de realidade. Havia ali também algo que foi nascendo aos poucos até tornar-se árvores gigantescas dentro dos cômodos das casas. E as folhas espalhadas no chão. Camadas de existência, de tempos. Sensação de entrar em cômodo local privado, que está aberto, exposto, à luz do sol, a chuva e o vento, está exposto às mudanças e às instabilidades do tempo. As janelas, todas abertas, sem abrigo, como frestas e buracos de onde se pode ver de maneiras diferentes. O descascar estava na parede da janela. A parede já descascada, já desfeita, já em dissolução, no desfazer do toque da pele como concreto, os tijolos à mostra. Era um lugar íntimo de espaço e sensação.
O escavar era mais espacial, havia movimento no espaço. Eu sentia o escavar pelo buraco do teto da casa e as cavidades por todos os lados das janelas. Escolhi um trajeto entre duas janelas. Eu era escavada por aquele espaço por muitas cavidades e buracos. Um buraco no tempo, uma sensação de atemporalidade.
No descascar ainda tinha um corpo que escorria de um fiozinho no ar, delicado, se desfazendo com o toque das mãos. Algo muito delicado, que se desfazia ao toque das mãos, mas que permanecia ali com o passar do tempo.
Havia uma permanência ali em oposição a uma provocação externa que me levava a uma insistência e repetição.
Uma permanência do lugar e as constantes camadas de transformação da casa, da construção, via mudanças de forma.
Uma tentativa, uma vontade de permanecer... uma sensação de permanência e um ser levado por instruções de fora a insistir, repetir.
O insistir, repetir me levava a um corpo em constante dissolução. Um corpo se dissolvendo aos poucos devido a uma insistência de repetição provocada em relação ao tempo.
Havia um conflito no meu corpo entre a permanência e a dissolução, via repetição, insistência.
Um deslocamento de tempo, espaço.
Ruídos delicados. Um silêncio, permanência, continuidade.
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