07/10 - Transe Em Trópico- Pedro Athié
Passar rápido pelas ações ajuda num entendimento do todo que estamos trabalhando, sinto que o corpo absorve/entende melhor a soma de todas essas fisicalidades; o tarantismo no êxtase; o êxtase no voluptuoso/gostoso/denso/câmera lenta; os olhos revirados nas máscaras “Artur Omarianas” conjuntamente da onça e etc....
Nas ações das máscaras do Artur Omar, sinto uma deliciosa viagem pelo que enxergaria se me visse de fora, um bloco de carnaval regado a bebida, beijos, pessoas calor e suor. Vejo de longe minhas caretas e as dos outros. E descubro finalmente que meu carnaval talvez seja um tanto quanto esquizofrênico pelas minhas feições... principalmente ao libertar o corpo pra dançar naquele finalzinho da ação. É o resgate da fisicalidade carnavalesca que mais me afeta e me acessa, parece ser um resgate via ponto máximo do êxtase - recuperado pela face e memória num trabalho de repetição e verticalização das situações de face e corpo, talvez?
A última ação mais comprida estava também deliciosamente embebida pelas anteriores mais rápidas, tudo se acumulava e passeava entre onça, faces gloriosas, arranhões, sexo, línguas, lambidas, o balançar que meu corpo absorve tão gostoso, o tremer/vibrar muito presente, tudo rolando ali ao mesmo tempo e transando entre si todas essas ações.
Encontrar o outro nessa ação final para vibrar era descanso. Encontrar o outro passando pela câmera lenta/sinuosidade (uma vez só aconteceu comigo) era tesão e as duas onças - ainda que acanhadas - sem o filete de papel se conhecendo novamente, agora com cheiro e suor. Tremores e arrepios.
Como é cheio e vazio o erotismo das coisas. Um abismo que nunca se sabe o que vai vir.
Revistar o “boi e saliva” mesmo nas modificações e de dentro agora, é de um estranhamento magnífico, e conta história de duas pessoas que se conhecem por suas salivas e formas de boca que procuram e conhecem o outro rosto através de um fino filete de sei lá o que. Aquilo está ali justamente pra amortecer essa aproximação entre-corpes animal que estamos -enquanto humanos embrutecidos - tão despreparados a enfrentar, como conhecer um outro rosto pela língua e mordidas. Erotismo das faces gloriosas, descabimento dos corpos extasiados.
Mãos pesadas e pré-históricas novamente - dispostas agora mais ainda a encontrar o outro, agarrar subir brincar.
O som contribui muito na ação final também, acessei ali a camada mais profunda entre o vibrar, o êxtase e o tarantismo, tudo mais locado na cabeça talvez mas era bom.
Sinto quentes os ombros, os joelhos, as mãos, e o estômago.

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