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E a potência do corpo volta por outra via

16 mulheres e 1/2

Transe em trópico

11.11.19

O caminho muscular, do tônus, é muito potente. Um caminho que tentei me afastar por ser como

um buraco negro, para onde eu era sugada, sempre. Tentei me afastar dele para poder trabalhar com outras camadas, outras vias. Retornar a ele sem aviso foi uma bela surpresa. Internamente ele faz muito sentido, mas não sei como é para quem está de fora... (essa dúvida sempre me ronda). A sua potência também me traz um grande cansaço muscular. Talvez se dosar a dose? Mas queria era ter ido ainda mais fundo.

Acessar o tarantismo por meio dessa experiência foi muito diferente da estratégia do estímulo

pelo martírio do dedo do pé... aquele é direto, como uma injeção de veneno que é necessário expulsar até o fim. O acesso pelo muscular foi bem diferente. Já comecei cansada. Como se estivesse tentando torcer os músculos e nada saísse. E a tentativa de expulsa-lo com choques, com o muscular esgotado, foi mais difícil. Outro caminho para o tarantismo. Um caminho que demanda mais pausas. Explosões pontuais. Ou talvez eu esteja muito velha mesmo... haha

O jogo do dia foi tranquilo. Me sentia cotidiana mesmo no meio do oval com toda a

movimentação. Sensação diferente. Talvez a presença permanente em todas as possibilidades da proposta (oval, selva, microfone, piquenique) tenham me passado esse sentimento. Parecia um todo mais uno, onde as possibilidades podiam borrar um pouco. Mas, ao mesmo tempo, percebi menos jogos específicos de movimento e de dinâmica entre as pessoas e eu.


Ao fim, na selva quadrada e hipotética, fui mordida- represália do último encontro segundo valonça (haha) - o que mudou meu foco do ambiente e de todos para aquela

parte do meu corpo. Mas não era meu corpo humano e sim meu corpo onça... o que me deixou instigada. Talvez seja por isso que em outro contexto - pesquisando sobre arte/arquitetura e real - ao me deparar com o corpo mordido de Vito Acconci (por ele mesmo) em “Trademarks” fiquei tão perplexa. Ele foi um dos primeiros a experimentar a arte performática na qual o corpo do próprio artista era tratado como um material a ser manipulado, alterado, punido e exibido. A lembrança da mordida surgiu imediatamente e com ela aquela sensação de ser humana e/ou onça.

E a potência do corpo volta por outra via.

Em um livro que discutia a volta do real.

E os ciclos se fazem presentes.



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