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para forçar aquele choro engasgado (risos)

Foto do escritor: Adriane De LucaAdriane De Luca


18.03.19 | Perguntas II

O corpo-deboche ou corpo que debocha? O corpo que debocha ou parodia está sempre em relação, ao lado de. De quais objetos escolhemos debochar? Por quê? Como é possível debochar de si mesmo, de maneira que o observador reconheça a ação do deboche? É possível experimentar/criar/ dançar uma fisicalidade do deboche? Nossa realidade é/virou um deboche? Estamos debochando do deboche? O deboche como provocação política. O carnaval como palco do deboche. O corpo que debocha na alegria. O corpo na ação de estar em festa, em bando, no caos e na alegria. Como foi ver/estar junto/ experimentar o corpo no carnaval, o corpo do carnaval? Refletir sobre os experimentos que fizemos até aqui.


Debochar da própria dança, que já me ocupava um lugar de julgamento e desgaste (esgarce)? Difícil! Sempre acho que tendo para um lugar de um certo drama, de uma energia pesada na dança. Tenho muita intensidade dentro, em tudo, mas não tristeza, isso eu sei. A intenção não é essa, mas quando comparo com outras propostas tenho essa impressão. Então, pensar no tema 'objetificação da mulher' ou pior, 'Brasil 2019', seria como ouvir um CD do Sigur Rós para forçar aquele choro engasgado (risos). Então, é disso que eu estou falando quando acho que aparento essa tristeza, mas por dentro às vezes estou rindo de mim mesma. Consigo ter um humor no pesado. É igualmente profundo rir de si. Porque essas situações poderiam virar um dramalhão tal novela mexicana, uma bizarrice exarcebada, como o Freddie Krueger, que não tem nada de terror. É o exagero. Isso é deboche?

É sempre em relação. Acredito mais na casualidade do que na causalidade. As situações experimentadas pelos outros que mais me fizeram rir não eram intencionais. Como as crianças rindo de algo sincero que não “deu certo” com o outro: um tombo, um tropeço, derrubar algo... Fiquei pensando sobre as reflexões que fizemos juntxs no último encontro. A simplicidade que o movimento único, exaustivamente repetido pelo Pedro, teria contribuído para a criação do auto-deboche. Pensei muito sobre a repetição como procedimento promissor para atingir esse “não dar certo” que gera o riso, por que repetindo muitas vezes, mais vezes a variação pode tender para o “não dar certo”. Certo?

Nossa realidade está caricata, mas os leitores, que há muito perderam a capacidade de interpretação de texto, não vêem que se trata de uma charge e querem voltar a queimar livros. Extrapolamos.

O Carnaval é uma autorização para o deboche. Feriado sagrado do profano. Talento único, genial, do brasileiro de fazer do luto um verbo musicado, do drama, uma grande dança abençoada e bem suada!




 
 
 

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