Maira – anotações sobre experiências, dia 26/03/2018
Propostas:
1) Lado A: movimentos que me interessam no sample; lado B: todo o resto, aquilo
que não me interessa.
Descrição em fluxo dos meus movimentos (feita por Pedro): “mais liberdade
interessante no lado da saída. Você sabe o que quer, mas que preguiça, né?
Olha o olhar, olha o olhar não está perdido, está querendo demais. Olhe pro
seu pé! Não para nunca, nem para respirar, tome tempo para nada. Roda gira,
roda volta, solta a cabeça, solta maisss!! Corre, corre mais do que conseguir,
pensa em ruínas, no que você pensa?”
Minhas impressões: inicialmente fiquei do lado A e não via sentido em mudar
ou sair dali. Depois de um tempo, porém, percebi meus movimentos repetitivos
e tive vontade de sair para experimentar o outro lado. No lado B senti uma
liberdade maior para dançar o “feio”, o “errado”. Experimentei movimentos
“estranhos”, me assustei e voltei correndo para o lado A. Lá fiquei aliviada, mas
logo tive vontade de sair: me vi praticamente sozinha enquanto as outras
pessoas dançavam animadamente e de um modo que me parecia mais
interessante do outro lado. De volta ao lado B senti grande prazer em dançar
ali, mais livre, sem me exigir o acerto.
Minhas impressões sobre os movimentos de Pedro: a princípio no lado A
predominavam delicados movimentos dos braços e da cabeça, movimentos
sinuosos e sensuais. No lado B ele fazia movimentos mais quebrados, mais
firmes, menos articulados, mais desconexos, envolvendo outras partes do
corpo. Aos poucos essa força do lado B apareceu no lado A, porém integrada e
articulada ao restante dos movimentos. No final, no lado B apareceram os
movimentos de braço circulares e sinuosos, delicados. Parecia que seu foco de
interesse tinha mudado, se alterado para algo que surgiu ali com a força que
estava mais visível do outro lado, o lado B.
2) Experiência de Deriva. Saímos para a rua em duplas: enquanto uma parte
dançava, experimentava o sample (por 15 minutos) a outra fazia um mapa,
depois trocamos de posição.
Tarefa proposta:
O que provocou o desvio/mudança?
Vontade de ir para um lugar seguro, vontade de dançar num espaço bonito
(perto de plantas, árvores, flores, com cores, sem muita luz) e aconchegante
(mesmo que isso fosse entre as pedras), preocupação em ficar longe do olhar
dos outros, em não chamar a atenção.
O que provocou permanência, o que me chamou a ficar?
Vontade de admirar a beleza de um espaço, o ar livre, o luar, a sensação de
aconchego, de segurança, a sensação de não atrapalhar e de não chamar a
atenção, sentimento de estar livre, sem pressão, a possibilidade de expirar, de
descansar.
O que provocou o trânsito entre o que é conhecido e o retorno ao sample?
A vontade de conhecer e explorar algo novo, desconhecido. O prazer em me
deslocar pela rua, correr ao ar livre, sentir o vento no rosto. Vontade de
alternar entre o pequeno e o amplo, entre o contido e o expandido, entre o
“invisível” e o visível, entre a figura e o fundo, entre o foco e a sombra.
Impressões:
Foi uma surpreendente alegria poder sair para a rua! Aquilo que inicialmente era um enorme
desafio tornou-se um grande prazer: dançar ao ar livre, poder olhar o céu, a lua, receber o
vento no rosto. Foi muito importante contar com a parceria e o olhar atento de Pedro; sua
presença e generosidade me deram conforto e segurança naquele espaço inusitado, noturno,
desconhecido. Tive vontade pular, dar piruetas e correr. Vontade de sentar, de deitar na mesa,
de me encostar no muro, de me esconder atrás do arbusto, de girar no meio da rua, saltar nas
folhas das árvores e de balançar com elas. Uma sensação de grande liberdade predominou.
Mas, ainda assim, em alguns momentos me percebi preocupada em dançar para os outros,
preocupada em dançar “bonito”, em agradar.
Comments