top of page

"dualidade correlativa: Som e Silêncio"

"Yu-Kuang Chu explica-as em seu ensaio "Interação entre Linguagem e Pensamento em Chinês". Diferentemente da lógica ocidental, baseada na noção do "ser" e da "identidade", o pensamento oriental apresenta uma lógica da "correlação" ou da "dualidade correlativa", onde os opostos não se excluem, mas se integram numa inter-relação dinâmica, sendo mutuamente complementares. Assim, o "ser" para este raciocínio é tão importante quanto o não-ser, que com ele interage, formando um par interdependente. Esta importância atribuída ao não-ser no pensamento oriental levou à idéia de não-ação, à importância do uso de palavras vazias de significado no idioma chinês, ao apreço pelo espaço vazio em suas pinturas. John Cage, por exemplo, a partir da leitura oriental da natureza, trabalhou a idéia de inatividade, não como algo oposto à criatividade, mas como algo que dialoga com ela, que lhe permite a existência e que existe por causa dela. Esta questão remete aos princípios chineses yin e yang. A partir deles, Cage discute som e silêncio pela via da complementaridade (e não da oposição). 

...

Cage, por sua vez, na busca do "silêncio absoluto", entrou em uma câmara anecóica (onde não há nenhum tipo de som, isolada acusticamente), e ainda assim ouviu dois "barulhos", um agudo e outro grave. O primeiro correspondia a seu sistema nervoso e o segundo à sua circulação sangüínea. Percebeu, então, que não há separação possível entre estes elementos, porque eles se relacionam como uma "corrente alternada", quando um está terminando, o outro está começando e vice-versa: "nenhum som teme o silêncio e não há silêncio que não seja grávido de som”.

(Um “soneto”de Arnaldo Antunes- de Adriane Rodrigues de Oliveira )


6 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo
bottom of page